Posso agendar uma cesariana para a minha cadela?
A sua cadela está grávida e pergunta-se: “posso agendar uma cesariana para a minha cadela?”. Conheça os fatores de risco que justificam este procedimento.
Ana Ribeiro
Saiba o que o seu cão deveria estar a comer...
Experimente sem compromisso
Nos cães, a maioria dos partos ocorre de modo normal, sem ser preciso a intervenção do ser humano. Mas, em caso de necessidade, poderemos ter de recorrer a uma cesariana. Embora uma grande parte das cesarianas aconteça em contexto de emergência, há situações em que se consegue identificar antecipadamente os riscos de um parto natural, justificando uma cesariana eletiva. Mas, “deverei agendar uma cesariana para a minha cadela?”. Conheça os fatores de risco e os problemas que justificam este procedimento cirúrgico.
Gestação e parto em cadelas
É importante lembrar que a gestação, nas cadelas, dura cerca de 57-61 dias (aproximadamente 2 meses).
Perto da altura do parto as cadelas podem já ter algum leite (colostro), mas nem sempre isso acontece. Também é comum que se escondam mais, procurem “fazer ninho” e até deixem de comer (relembrando que nesta altura as cadelas gestantes devem estar a fazer uma alimentação de boa qualidade e adequada a esta fase).
Uma forma de sabermos que o parto está a iniciar-se, é medir a temperatura retal da cadela, já que, entre 12 e 24 horas antes de entrar em trabalho de parto, a temperatura desce para valores abaixo dos 37ºC.
Num parto normal, após este sinal, a cadela começará a ter contrações. Em geral, os cachorros nascem com intervalos que variam de 10 a 30 minutos entre si. Embora, em ninhadas muito grandes, esse tempo possa ser maior.
Se a cadela estiver com contrações fortes há mais de 30 minutos sem que haja nascimento dos cachorrinhos, o médico veterinário deverá intervir para a avaliação da necessidade de uma cesariana (parto distócico).
Cesariana de emergência em cadelas
Para a avaliação de uma cesariana de emergência, deveremos atentar aos seguintes sinais, alguns deles ainda durante a gestação:
- Passaram mais de 70 dias de gravidez, após o acasalamento.
- Mais de 4 horas entre uma descarga vaginal esverdeada ou vermelha/castanha e a expulsão do primeiro cachorro.
- Diminuição da temperatura retal em mais de um ou dois graus e retorno ao normal ou mais
elevada, sem sinais de início do parto. - Mais de 30 minutos de esforço abdominal sem a expulsão de um cachorro.
- Intervalo muito longo (mais de 2 horas) sem que seja expelido outro cachorro de existência comprovada por ecografia;
- Cadelas doentes, febris, em choque ou em colapso durante o trabalho de parto.
- A sua cadela está na segunda etapa do trabalho de parto, há mais de 12 horas (a segunda etapa é quando os cachorros estão a nascer)
- Feto retido no canal (a cabeça está exposta mas o corpo permanece dentro da mãe)
Cesariana eletiva em cadelas
A escolha de uma cesariana eletiva está normalmente relacionada com o facto de que um parto natural numa determinada cadela poder tornar-se fatal, para a cadela ou para a ninhada. Esta, baseia-se geralmente em critérios relacionados com a maior predisposição para ocorrência de distócia.
Alguns fatores de risco:
- Conformação do corpo da cadela: tamanho pequeno da pélvis devido à raça, idade precoce ou trauma anterior.
- Idade: A idade avançada predispõe a gestações de apenas um único cachorro, inércia
uterina e parto prolongado. - Raça: raças braquicefálicas habitualmente possuem uma incompatibilidade entre o
tamanho pélvico da cadela e o tamanho da cabeça dos cachorros. Para além dos animais braquicéfalos, a distócia é ainda prevalente noutras raças como o Yorkshire Terrier, Labrador Retriever, Chihuhahua, Lulu da Pomerânia e Staffordshire Bull Terrier. - Tamanho da ninhada: Ninhadas pequenas, com menos de cinco cachorros, ou
ninhadas muito grandes, com mais de nove cachorros, têm maior probabilidade de causar problemas no parto, ocasionando alterações nas contrações uterinas. - Anomalias na disposição fetal: apresentação, posição e/ou postura anormal dos cachorros.
- Cachorros de tamanho grande: em situações de presença de ninhada com um único cachorro, gestação prolongada ou fatores genéticos como raça ou pai grande.
A prática de cesariana eletiva, quando existem fatores de risco associados, traz resultados favoráveis para a cadela e para a ninhada, evitando visitas de emergência ao veterinário, e maximizando a oportunidade de obter uma ninhada saudável. Se está na dúvida se a sua cadela precisará, ou não, de realizar uma cesariana eletiva, aconselhe-se com o seu médico veterinário!
Ana Mota Ribeiro
Médica Veterinária de Animais de Companhia