Febre do Shar Pei: o que é e como tratar?
A febre do Shar Pei ou doença inflamatória hereditária atinge cerca de 23% dos cães da raça Shar Pei! Saiba mais sobre o assunto aqui.
Daniela Leal
VeterináriaSaiba o que o seu cão deveria estar a comer...
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A febre do Shar Pei ou febre familiar do Shar Pei é uma doença inflamatória hereditária. Esta surge devido a uma mutação genética responsável que leva à produção em excessiva de ácido hialurónico e mais tarde a mediadores inflamatórios. A doença manifesta-se normalmente antes dos 18 meses de idade.
Quais os principais sinais clínicos da Febre do Shar Pei?
- Episódios de febre que duram cerca de 24 a 48 horas e que provocam perda de apetite e prostração;
- Artrite (50% dos cães desenvolve inchaço e inflamação à volta das articulações, principalmente no tarso, durante os episódios febris);
- Dermatite e otites recorrentes;
- Amiloidose sistémica.
Como é diagnosticada a Febre do Shar Pei?
Perante episódios de febre recorrente, o Médico Veterinário irá realizar um conjunto de exames clínicos para descartar outras causas para a febre. Em cães de raça Shar Pei, a inexistência de outras causas para o aparecimento de febre, o tipo de sinais clínicos e a tipologia da febre (recorrente e que se resolve em 24 a 36 horas) são indicadores para o diagnóstico de Febre do Shar Pei.
Tratando-se de uma patologia hereditária, com envolvimento genético, é possível a realização de testes genéticos que permitem a identificação de uma mutação responsável pela doença. O exame é de simples execução e permite aumentar a força do diagnóstico e apresenta também um papel prognóstico: o tipo de mutação pode indicar uma severidade maior ou menor da doença.
Os Shar Pei com a doença podem ter uma vida normal?
A resposta é sim! Caso não exista amiloidose associada a falha hepática ou renal, há muitos cães com a doença que têm uma vida normal entre episódios inflamatórios. A frequência dos episódios inflamatórios e de febre varia de cão para cão.
Existe cura? Como deve ser feito o acompanhamento destes casos?
Não existe cura definitiva para a doença. Animais com febre podem beneficiar da toma de medicação anti-inflamatória durante os episódios de febre e/ou artrite. Caso apresentem outras manifestações, como otites ou dermatites, o tratamento deve ser direcionado para o problema de pele, muitas vezes com recurso a produtos tópicos.
Os cães com suspeita de Febre do Shar Pei devem ser seguidos de forma regular no Médico Veterinário para que a doença seja acompanhada e para que sejam antevistos sinais de aparecimento de amiloidose, concomitantemente.
A alimentação e o reforço do sistema imunitário podem desempenhar um papel protetor no aparecimento de episódios inflamatórios. Animais com a patologia devem fazer uma alimentação equilibrada, sem excessos proteicos ou calóricos, com proteína facilmente digestível e com alimentos e suplementos que ajudem a fortalecer o sistema imunitário e a barreira cutânea (como ácidos gordos ómega 3 e 6). Apesar de o maneio alimentar poder ser uma mais valia, não existem estudos que comprovem cientificamente o papel direto da alimentação na evolução e manifestação da doença.
A doença pode trazer complicações?
Sim. Animais com a doença estão sujeitos a processos inflamatórios que em alguns casos são constantes e uma percentagem significativa dos Shar Pei com febre familiar têm amiloidose associada. A amiloidose pode provocar alterações hepáticas ou renais, que com o tempo podem deteriorar a função destes órgãos, levando a insuficiência renal e/ou hepática grave que põe em risco a vida.
O meu cão é Shar Pei e está com febre: e agora?
Considera-se que o cão está com febre quando a temperatura retal é superior a 39º-39.4ºC. Tal como nos outros cães, também nos cães de raça Shar Pei a febre pode ser motivada por variadas causas, desde processos inflamatórios a processos infeciosos ou até neoplásicos. Isto quer dizer que o facto do seu amigo Shar Pei estar com febre, não significa que se trate de febre familiar do Shar Pei.
Caso a febre seja persistente e venha acompanhada de outros sinais clínicos como perda de apetite ou prostração, o animal deve ser visto pelo médico veterinário para que a causa da febre possa ser diagnosticada e instituído tratamento direcionado.
Perante qualquer episódio febril, não deve medicar o seu amigo de quatro patas. Deve levá-lo a consulta para que o motivo da febre seja diagnosticado. Se suspeitar de febre (notar o seu patudo mais quente, com falta de apetite ou prostrado), pode medir a temperatura retal em casa (veja aqui como).
Daniela Leal
Médica Veterinária de Animais de Companhia